"Ao abrir os olhos nessa
manhã, enxerguei a imensidão que é a vida e quão pequena é minha existência.
Fechei os olhos novamente e
perguntei ao universo qual o motivo de eu ter acordado hoje.
Por instantes naveguei em
pensamentos, e abri os olhos novamente: estava no modo essência, logo acima do
meu corpo. Observei-me de perto - eu estava chorando.
Era tão normal quando eu estava
lá dentro com ele. Aqui do lado de fora parecia tão triste me ver assim. As
lágrimas escorregaram pela minha bochecha, estiquei as mãos para aparar, mas
minha essência não tem toque.
Vi meu corpo morder os lábios e
apertar o peito. Será que eu estava sentindo minha falta?
Olhei o espaço em volta. Comecei
a subir. Agora estava enxergando o telhado da minha prisão. Fui me afastando
cada vez mais. Vi as ruas do bairro. Logo vi o mesmo se perdendo na grandeza da
cidade. Lá estava o estado de São Paulo inteirinho. Um avião passou do meu
lado, e me permiti sorrir ao deparar-me com uma menininha de olhos castanhos
olhando as nuvens e gargalhando de alegria. "Ela está sabendo viver"
- pensei.
Quando, por fim, decidi ficar
por aqui e acabar com a dor do corpo que havia ficado lá em baixo, lembrei-me
de alguém que fazia de meus nove dias tristes insignificantes quando o via.
Sorri.
Desci numa velocidade absurda,
passei por dentro de um gavião, acho que ele sentiu minha presença. Estranho.
Vi os prédios se aproximarem de minha visão, as ruas se formando, as
bifurcações ficando nítidas.
Cheguei.
Levantei minha mão, pronto para
bater naquela janela do décimo quinto andar, mas quem estivesse do outro lado
não escutaria, de certo modo.
Fechei os olhos e pedi perdão
aos meus princípios. Atravessei aquela parede e logo fiquei de joelhos ao lado
daquela cama.
A boca dele estava um pouco
aberta, sua respiração era pesada. Estava de calça jeans, por certo, estava tão
cansado que nem trocou de roupa.
Continuei ajoelhado. Tentei
arrumar suas sobrancelhas que estavam bagunçadas. Mas meu toque não fazia
efeito. Dei um sorriso torto.
Levantei, aproximei-me da
parede. Era hora de te deixar em paz. Visualizei pela última vez seu pé para
fora da cama com uma meia branca quando, de repente, algo brilhou ao lado de
sua cabeça. Franzi a testa e fixei meu olhar na tela do seu smartphone. Era uma
notificação de mensagem no aplicativo do WhatsApp.
Se eu dependesse de respiração
para continuar ali, por certo não mais estaria.
Estava confuso. Era meu nome na
tela do celular. Como? Eu estava aqui.
"Acordei estranho, Vida.
Parece que passei a noite num universo paralelo, mas ao mesmo tempo dependia
dessa realidade aqui. Enfim, desculpa lhe mandar mensagem essa hora.
Beijo".
Será que alguém estava mexendo
no meu iPhone? Impossível. Era exatamente daquele jeito que eu escrevia.
Atravessei a parede e fui voando
para casa. Eu queria chorar. Mas a essência não chora. Chora?
Vi o telhado e desabei como um
iceberg ao lado do meu armário. O celular estava nas minhas mãos, mas meus
olhos continuavam fechados.
Minha face estava banhada de
lágrimas. De certo modo eu estava sofrendo lá dentro.
Deitei sobre meu corpo. Senti um
tremor, sabia que estava de volta, mas continuei com meus olhos fechados.
Respirei, abri lentamente os
olhos e digitei a senha do celular. Logo abaixo da minha mensagem, que tinha
lido a pouco naquele apartamento, havia uma resposta:
"Ah Vida, não acordei por
causa da notificação, mas, sim, porque senti sua mania besta de arrumar minha
sobrancelha. Mas me conte, eu estava nesse universo paralelo?"
Respirei fundo. Eu sabia porque
tinha acordado aquela manhã.
E sabia porque deveria acordar
todas as outras."
- Lima, Luhran
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